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13 de fevereiro de 2014

Contra as praxes! 

Eu já vou fazer 60 anos, mas geralmente resisto o mais que posso a tiradas sobre os meus tempos de juventude, os meus tempos de estudante, que eram tempos de grande tensão política, no quadro da ditadura fascista e da guerra colonial até Abril de 74, e depois, por causa da explosão transformativa que o 25 de Abril abriu.

Mas nos dias que correm, com a sociedade portuguesa confrontada com a tragédia da Praia do Meco e a suspeita de que a morte dos 6 estudantes resultou de se entregarem à ditadura das praxes, não consigo deixar de comparar a atitude dos estudantes de hoje com a dos do meu tempo. 

Era o que mais faltava então alguém ousar sequer sugerir, na Faculdade de Direito da Universidade clássica de Lisboa onde eu andava, que se aplicassem praxes aos caloiros. Praxes eram para nós manifestações da alienação política e pessoal de uma certa parolagem residual em Coimbra, que se agarrava a tradições grosseiras e obsoletas, tão reaccionárias como o uso da capa e batina para distinguir socialmente o estudante...

Na minha faculdade, na Universidade de Lisboa, ninguém tolerava andar enfiado num qualquer uniforme e muito menos ser sujeito, ou sujeitar quem quer que fosse, à ignominia das praxes. 

E nunca nos faltaram processos muitíssimo eficazes de integração prazeirenta dos novos estudantes na escola: da participação na vida associativa, às actividades culturais  e, claro, à mobilização política para lutar pela democracia e contra a guerra colonial, que para tantos implicou duras "experiências de vida" com repercussões para sempre,  como a prisão, a tortura, a mobilização forçada para a guerra - experiências que, sem dúvida, modelavam o carácter e o sentido cívico do estudante. 

Por mais irreverente, inconvencional e até subversiva que fosse, a experimentação  estudantil não precisava de recorrer à subjugação alienante das praxes, que nas últimas décadas, dizem-me que particularmente promovida pela JSD, alastrou pelo mundo acadêmico, como poderosamente documenta um filme de Bruno Morais Cabral há dias exibido na RTP.

Poderosa e dolorosamente, porque me infligiu dor, e horror, perceber a que ponto tantos jovens portugueses se deixaram contagiar, subjugar e viciar pelos processos humilhantes, grotescos e indignos das praxes - um "bullying" consentido entre jovens adultos, perigosamente educativo para a obediencia fascista, como com toda razão observou o prof Mariano Gago, ou para a obediencia mafiosa, acrescento eu.

Há muito que me venho interrogando porque é que a minha geração teve ganas para se revoltar e sair à rua contra a opressão colonial fascista,  enquanto as geracões jovens  de hoje parecem passivas e acomodatícias, embora sejam tão atacadas e até escorraçadas pelas políticas austericidas deste Governo mais troikista do que a troika. Será que, à conta da disseminação das praxes, se habituaram a de ser praxados pelos duxes Passos e Portas e se conformam com a "experiência de vida empobrecida"  que eles  impõem a Portugal?

Acabem com esse aviltamento das praxes,  jovens estudantes do meu país! Indignai-vos contra quem vos corta oportunidades e vos obriga a emigrar! Dá, garanto-vos, emoções mais fortes e muito mais úteis para toda a sociedade!

E com este apelo me vou até à Ucrânia, ouvir gente muito valente e determinada, que desde há dois meses não pára de se indignar!


NOTA : estas foram as notas em que me baseei para a minha intervenção no "Conselho Superior" da ANTENA 1 a 28.1. 2014

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