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30 de julho de 2014

Ministra dispensada, Governo finado... 

Por Ana Gomes


Anda a ser plantado nos media que Maria Luis Albuquerque será o nome a indicar para Comisária europeia pelo governo. Um jornal no último fim de semana vendia até que o nome da ministra das Financas teria sido pedido por Jean Claude Juncker. "Nada disso", negam-me peremptóriamente fontes próximas de Juncker "ele alguma vez ia lá assumir a responsabilidade de tirar um ministro das finanças a um governo! E depois,quem é essa senhora, que currículo político europeu tem para apresentar?" interrogam-me as mesmas fontes.

É, porém, verdade que Jean Claude Juncker está a insistir com os governos que ainda não indicaram Comissaários que lhe forneçam, até ao fim deste mês, nomes para que possa formar uma comissão minimamente representativa - e minimamente apresentável, digo eu.  O Parlamento Europeu já fez saber querer mais mulheres no elenco de comissários - actualmente são apenas 9 em 28. Por ora, ominosamente, dos 18 nomes para a Comissão  já indicados, apenas dois são de mulheres.

Como Portugal, em quase trinta anos de pertença à União Europeia, nunca indigitou uma mulher, esta é mais do que altura de termos uma comissária europeia. Entre nomes com indiscutível preparação, experiência e reputação europeia tem se falado na Prof. Maria da Graça Carvalho, do PSD, e na Prof. Maria João Rodrigues, do PS. Qualquer uma poderia obter do presidente eleito, Juncker,  pastas importantes: a primeira, a ciência e inovação ou os fundos regionais; a segunda, esta ultima pasta ou ainda as questões institucionais ou o emprego e assuntos sociais. A Ministra Albuquerque, em contraste, marcada por um perfil financeiro técnico, antes e depois de chegar ao Governo, jamais conseguiria a pasta das finanças europeias, na lógica de distribuição bruxelense; e não tem qualificação para outras pastas.

Mas se se confirma que Passos Coelho tira da cartola a Ministra das Finanças - então estaremos a assistir aos preparativos das exéquias deste Governo. 

Antes de mais, a indigitação de Maria Luis Albuquerque será totalmente inaceitável para o PS - equivale a mandar reinar na Europa uma Dama de Gelo mais troikista do que a Troika, quando o PS quer, e tudo faz, para que a UE mude e ultrapasse a era da castigadora invernia económica, social e política trazida pela austeridade e pela Troika. Se o Primeiro Ministro insistir no nome, fica claro que nunca teve a mais pequena intenção de trabalhar para o consenso com o PS no que deveria ser o mais básico para servir Portugal - a nossa política europeia.

Depois, é natural que a indigitação de Maria Luis Albuquerque também desencadeie fortes engulhos no próprio Governo e, em particular, no parceiro da coligação que o sustenta: é que o Dr. Paulo Portas teve de engolir a sua demissão "irrevogável" por objectar a Maria Luis Albuquerque porque o Primeiro Ministro a tinha por a única pessoa capaz de substituir Vitor Gaspar na pasta das Finanças. Um ano depois, com as Finanças em cuidados intensivos e já sem a Troika à cabeceira - com a dívida pública disparada para 133% do PIB, a meta do défice de 4% para este ano em risco, mais chumbos do Tribunal Constitucional, mais aumentos de impostos e mais cortes de salários e pensões, e com um furacão no horizonte - ainda não se sabe qual será o impacto na economia real do caso de policias BES/GES - o PM conclui, subitamente, que pode afinal dispensar a Ministra que impos ao seu Vice-Primeiro Ministro. E logo por acaso arruma-a em Bruxelas, no firmamento em que o mesmo Vice-Primeiro Ministro tanto queria brilhar: sim, porque Paulo Portas, sabendo que de Vice não passa e q as águas verdes do BES/GES em que nadava estão turvas e perigosas, quer ardentemente - precisa -  de dar uma de Durão e sair para a  Comissão Europeia.

Quer isto dizer que o final desta semana poderá ser de alto risco: os vipes e os golpes poderão atingir niveis estratosféricos: Portas pode desesperadamente tentar oferecer ao PSD o CDS, de bandeja, em coligações para legislativas e presidenciais. Se acaso a oferta for aceite, ninguém poderá garantir a entrega - e muito menos Paulo Portas, como Passos Coelho deve saber.

Por isso, retorno à interpretação de que a indigitação de Maria Luís Albuquerque para a Comissão Europeia, tal como a nomeação do chefe de gabinete do Primeiro Ministro para Embaixador em Madrid, soam a finados deste Governo. Ou, por outras palavras, os ratos apressam-se a abandonar a barca de Coelho, que, por sua vez, se presta a baixar-lhes os salva-vidas...


( Transcrição da minha crónica no Conselho Superior, Antena 1, ontem)

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