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14 de outubro de 2014

Destruir a PT, destruir Portugal 

Por Ana Gomes 

Sentimo-nos atordoados, nos últimos dias, com a destruição de valor e da autonomia estratégica que a empresa Portugal Telecom representava para a nossa economia e para a afirmação do país nos espaços lusófono e global.
Mas o começo da derrocada da PT não é de agora: viu-se já quando os seus administradores se prestaram a caucionar jogadas de baixa política, como a tentativa atribuída a Sócrates de controlar politicamente a TVI e subsequente escandalosa isenção de imposto pela venda da VIVO em finais de 2010.
Recente é a constatação pública de que, afinal, quem mandava na PT era o GES/BES: com a derrocada do Grupo ficou a perceber-se que a PT estava ao serviço e era, de facto, comandada pelo bando de alvos colarinhos que montara a associação criminosa em que se convertera a Espírito Santo/Rioforte.
Agora que Granadeiro já bazou, Zeinal Bava baza com uma indemnização milionária e os 12.000 empregados da PT tremem, realizando que a empresa parece, de facto, uma "OI Portugal" e está prestes a ser vendida a patacos a um grupo financeiro desconhecido, multiplicam-se apelos lancinantes ao Governo que abdicou da "golden share", para que intervenha e use o controlo que ainda tem ao seu alcance, via Novo Banco, para impedir a venda da PT.
Mas isto é o mesmo que pedir à raposa que não pilhe galinhas do galinheiro que foi aberto a seu jeito!
Pois, não foi Pedro Passos Coelho que assumiu querer pôr mãos "no pote", ou seja no Estado, justamente para o desmantelar, desarmar, para destroçar tudo o que dependa de controlo do Estado? Pois não é precisamente isso que vem fazendo o Governo há 3 anos, com a desculpa da Troika e para além da Troika, atacando os funcionários públicos, subcontratando a escritórios de advogados e consultores o que deveria ser acautelado como interesses do Estado, privatizando tudo o que é rentável, por mais estratégico que seja para a segurança e a competitividade nacionais - da EDP e REN à ANA, aos CTT, à EGF, aos ENVC? Não é este Governo que ainda não desistiu de privatizar a TAP, as Águas de Portugal e que, se não puder privatizar, não desiste de fazer rebentar ou esvaziar a RTP/RDP e a CGD?
Pois, não veio há dias o Primeiro Ministro dar o dito por não dito e admitir que, se a venda do Novo Banco não cobrir o empréstimo do Fundo de Resolução bancário, lá terá a CGD de suportar perdas proporcionalmente, além da factura que irá direitinha para os contribuintes? 
Convém lembrar que há semanas Ministra das Finanças e Primeiro Ministro mentiram aos portugueses, ao afiançarem que a solução "fundo de resolução" se justificava por não ter encargos para os contribuintes e ao encenarem a farsa de que a intervenção no BES, via fundo de resolução, fora imposta pela Comissão Europeia. Ao mesmo tempo que o Governo legislava secretamente, em preparação daquela intervenção, e deixava escapar informação interna para certos privilegiados que venderam de sopetão as suas participações no BES antes da derrocada, Primeiro Ministro e Ministra - em coro abrilhantado também pelo Governador do Banco de Portugal e pelo Presidente da Republica - encorajavam outros investidores a participarem no último aumento de capital do BES, assegurando que o banco estava sólido...
Este Governo dissuade qualquer investidor estrangeiro sério de vir investir num país onde a justiça está em "estado de Citius". Esfalfa-se a por em pé de guerra a escola pública. Encoraja o sentimento de impunidade  da associação de malfeitores que dirigia o GES/BES - que outra leitura pode ter aquele jantar do Primeiro Ministro no Algarve com José Maria Ricciardi? BES/GES por detrás da maioria dos negócios ruinosos para o Estado feitos na ultimas décadas e que este Governo encobriu e prosseguiu. Porquê esperar que mexa um dedo para salvar a PT?
Há quem acorra a explicar que o Governo nada pode fazer para suprir problemas estruturais do capitalismo português, que não tem  suficiente capital. Branqueia-se assim, miseravelmente, a responsabilidade de sucessivos governos - e deste, em particular - cúmplices na fuga organizada, por via legal e ilegal, de capital para paraísos fiscais, enquanto são brutalmente sobrecarregados com impostos aqueles que efectivamente os pagam. Os famigerados RERTs - Regimes Especiais de Regularização Tributária -  foram versões, refinadas na perversão, deste criminoso mecanismo para descapitalizar a nossa economia....
Enfim, o ex-administrador da Tecnoforma que temos como Primeiro Ministro e seu irrevogavel parceiro especializado em negócios submarinos parecem querer por-nos cada dia mais perto da implosão que anteviu, no último 5 de Outubro, o presciente e complacente Presidente da República. Vai-se a jóia que era a PT! Um dia destes acordamos com a Torre de Belém e o Mosteiro dos  Jerónimos em basta pública!... 

(Transcrição da minha crónica no "Conselho Superior" da ANTENA 1, esta manhã)

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