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19 de maio de 2015

Governo festeja saída da troika, mas a troika não saiu dele... 

Por Ana Gomes

 

 

A coligação no Governo festejou há dias em Guimarães a saída da troika. A troika pode ter saído de Portugal, mas não saiu deste Governo e das políticas desastrosas que ele impõe ao país.

 

O mesmo Pedro Passos Coelho que enganou os portugueses com falsas promessas para chegar ao poder, e depois de lá chegado aplicou um programa mais troikista do que a troika, agora que se aproximam as eleições (apesar de em 2012 ter deixado escapar que se estava lixando para as eleições, na realidade não está!), volta a esmerar-se no embuste e manipulação. Agora transforma números medíocres em números auspiciosos!

 

É o que acontece com os dados do INE referentes ao primeiro trimestre de 2015. Todos os resultados estão abaixo das previsões - de todos os analistas: Comissão Europeia, Universidade Católica, gabinetes de prospectiva dos bancos, etc.

 

A Comissão Europeia previa um crescimento em cadeia de 0,5. O INE  apresenta O,4. 

A Comissão previa um crescimento homólogo de 1,7. O INE apresenta 1,4.

A Católica previa 0,9 em cadeia. O INE apresenta 0,4. 

A Católica previa de crescimento homólogo 2,1. O INE apresenta 1,4.

 

A menos que o Primeiro-Ministro queira voltar a pôr em causa o INE - como fez há semanas - o crescimento do primeiro trimestre de 2015 é inferior às previsões de todas as instituições. O resultado em cadeia (0,4) é apenas igual ao trimestre anterior. A taxa de crescimento não subiu - estagnou. Esta é a realidade. Ou seja, o Governo enche a comunicação social de parangonas sobre um crescimento económico que não existe.

 

No jantar festejante em Guimarães, há dias, o Primeiro Ministro entregou-se a mais truques de malabarismo: voltando a prometer um défice inferior a 3 por cento do PIB para este ano, acrescentou que será proeza sem precedentes: a primeira vez desde que existe Democracia e Moeda Única! Quer dar-nos por parvos ou desmemoriados: como se os Primeiros Ministros Guterres, Durão Barroso e Sócrates não tivessem, todos eles, conseguido deficits abaixo dos 3 por cento e saído de procedimentos por défice excessivo...., pela ultima vez em 2007, no ano imediatamente anterior ao estalar da crise financeira internacional, que o Governo persiste em ignorar.

 

O Governo anuncia amanhãs que cantam, apesar do IEFP contabilizar 713 mil desempregados, dos quais 350 mil jovens desocupados, ou seja, que não estudam, nem têm emprego. Fora os já fora das estatisticas e os estagiários, os precários e os 300.000 emigrados. Para vergonha das nossas caras, temos hoje 2,5 milhões de pobres, segundo a Caritas, e uma em cada três crianças a viver abaixo do limiar de pobreza!

 

E temos, pela mão deste Governo, o maior aumento de impostos de sempre, que se mantem sobre quem paga impostos. Enquanto grandes devedores ao fisco continuam alegremente a fugir para paraísos fiscais ou a ser escandalosamente beneficiados! Como o Novo Banco que viu o Governo perdoar-lhe 85 milhões...

 

Estes são os factos acabrunhantes do caminho para o "Milagre Económico" de que o Ministro da Economia falava há uns tempos, mas que ninguém vê. O que os portugueses estão a ver é o elevado desemprego estagnado, a emigração a continuar a roubar ao país milhares de jovens e quadros técnicos qualificados. E a economia sem arrancar.

 

O investimento previsto continua a mostrar-se insuficiente para, por si só, criar emprego. E o Governo, que acredita em milagres, tem sido incapaz de compensar esse défice com investimento público. O célebre banco de fomento, com que há anos o Governo acena e que  recebeu luz verde da Comissão Europeia há mais de dois anos, continua parado. Às empresas, às instituições, às autarquias, não chegou um cêntimo de fundos europeus que o dito banco de fomento desde o inicio de 2014 devia estar a canalizar. Isto é dramático! Há milhares de PMEs que não conseguem obter crédito na banca comercial - depois da revisão das rácios de cobertura dos bancos, há agora exigência de maiores garantias.

 

Apesar de ter os cofres cheios, segundo a Ministra das Finanças, o Governo continua a recusar fomentar investimento público - via que é indispensável ao crescimento e à criação de emprego. E Não obstante estar a beneficiar de três brindes excepcionais: a intervenção do BCE nos mercados, há dois anos e reforçada este ano, e a baixa simultanea e substancial de dois indicadores fundamentais - os preços do petróleo e do dólar.

 

Mas há dias em que mesmo a um compulsivo mistificador, como Passos Coelho, lhe foge a boca para a verdade:  ele gabou-se publicamente de como nos tinha feito engolir, sem querer saber de dores e efeitos secundários, o remédio amargo e abrasivo que  aviou junto da troika. Havemos bem de o  lembrar no dia de ir votar nas próximas eleições: é que não nos poderemos queixar da mistela, se continuarmos a deixar tal curandeiro tratar da saúde do país, como aquele inglês que tratou da saúde ao seu cavalo...

 


(Transcrição da minha crónica desta manhã no Conselho Superior, ANTENA 1)

 

 

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